sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Edson e Manuel

Por ROBERTO VIEIRA


Hoje, Garrincha completaria 77 anos.

Garrincha que faz anos cinco dias depois do Pelé.

A coincidência das datas induz uma reflexão.

Porque Garrincha é visto como inocente e bonachão fora dos campos?

Enquanto Pelé é cobrado em cada esquina a cada escorregão?

Qual a diferença entre o Edson e o Manuel?

Edson se recusou a reconhecer uma filha.

Parte da torcida o vaia até hoje.

Longe do texto elogiar a conduta.

Mas Garrincha abandonou uma penca de filhos.

No Brasil, na Suécia, sabe-se lá onde mais.

Mesmo assim, o ato de Edson é sempre lembrado.

E o de Garrincha é folclorizado.

Como o de um bom selvagem.

Em outros campos, Edson foi exemplo de atleta.

Não bebia, não fumava, treinava mais que todo mundo.

Enquanto Manuel era o avesso do avesso do avesso.

Edson que jogou tão machucado quanto Manuel.

Ambos esquartejados.

Porém, a imagem do Rei saindo em frangalhos na Copa da Inglaterra.

Depois de lutar com uma perna só diante dos portugueses.

É menos lembrada que a clavícula do Kaiser.

Menos glamourizada que os joelhos do Manuel.

Não se trata aqui de juízo de valores.

Pelé e Garrincha são fenomenais, craques, gênios.

Edson e Manuel são humanos, falíveis, marias-madalenas.

Entretanto.

Talvez o motivo da percepção distinta entre Edson e Manuel.

Seja outro.

Menos inocente – e mais ligado ao preconceito de classes e de cor.

Edson, menino pobre e faminto, negro e inculto.

Seria idolatrado se morresse pobre e entorpecido.

Como devem morrer os negros neste país.

Como morreu Garrincha.

Mulato inzoneiro alcoolizado e falido.

Semideus de um país que aplaude os seus ídolos do povo.

Principalmente quando morrem miseráveis e esquecidos…


"A quantidade de preconceito que cada um de nós tem é inversamente proporcional a de inteligência". Jefferson Luiz Maleski