terça-feira, 13 de agosto de 2013

A resignação ideológica-social


Apesar de não ser anti-religião/religiosidade (como pode ser visto no post anterior) se tem algo que acho insuportável nos dogmas (em algumas religiões) é a resignação: “ahhh minha vida é assim (uma merda) porque Deus quis assim”. É bem comum ouvir isso. Mas, muito pior que a resignação religiosa, é a que chamarei de “resignação ideológica social”. A que ao invés de colocar a “culpa” em Deus, coloca nos “padrões e regras sociais”.

Abordarei dois exemplos para não alongar muito, mas, existem diversos. Um é em relação à pobreza. É óbvio que o fato da pessoa ser pobre não significa que ela seja pior (em nenhum nível possível) que uma “classe média” ou rica, claro que não. Porém, isso também não significa que ela deve “achar ótimo” ser pobre, ou ser resignado a ser pobre porque: “Ser pobre é legal, é a sociedade consumista que quer criar padrões de consumo e riqueza para você”. É claro, falando de forma “popular” que a pessoa não precisa ser um escroto (#classemédiasofre), esbanjador, porco capitalista (pra ficar de boas com os amigxs), etc. No entanto, o paralelo a esse tipo de indivíduo, principalmente no nosso modelo (atual) de sociedade ocidental, não é “ser pobre”, a pessoa pode muito bem ter “de tudo” e ser totalmente “sociável” (eu sei, é um termo amplo).

As vezes me passa a seguinte impressão: Que determinados grupos querem que o pobre tenha seus “direitos naturais” respeitados (saúde, casa, comida), no entanto, ter um carro e uma Sky, é um pouco demais, né?... Aí vem sempre lugares comuns: “fulaninho é um cara legal. Nunca saiu da sua favela”, ou “fulaninho depois que ficou ~rico~ traiu as origens e foi morar em ~bairro nobre~”. É evidente (apesar de muitos não notarem) que, se a pessoa se sente bem no local que vive, seja uma favela ou uma cobertura na praia, ótimo! Ela não é menos digna que ninguém (pelo local que vive). No entanto, não significa que ela não possa “deixar sua comunidade” porque tem mais condições (ou a opção de). Até porque, em favelas também existem vizinhos malas. E seguindo essa lógica, uma pessoa não deveria deixar sua cidade, estado ou país em busca de melhores condições de estudo ou vida (e o pior é que conheço gente que realmente pensa assim).

Outro ponto da “resignação ideológica social” são os “padrões de beleza”. É óbvio que existem “padrões de beleza” (normalmente europeus) que são “vendidos” pela mídia e oprimem outros tipos de “beleza”. E também é claro que a beleza natural (do cabelo, corpo, etc), deve ser respeitada e tratada com igualdade. Porém, isso não significa que a pessoa não possa mudar ou buscar o “melhor” para si. Exemplo: Uma pessoa mais gorda não deve se envergonhar ou se sentir inferiorizada pelo seu peso, e é massa quando se senti bem com ele. No entanto, se a opção dela é ficar mais magra, isso não a torna pior ou “alienada” (isso sem levar em consideração que obesidade, muitas vezes, é prejudicial a saúde). Fico com muita vergonha alheia com aquela velha forçada de barra, muitas vezes hipócrita, sobre o peso alheio, que é: “ahhh garota você é linda assim, gordinha, não mude, não deixa a imposição dos ~padrões de beleza sociais~ te oprimirem”. Tem algo mais piegas, falso e “auto-ajuda”? É claro, na maioria dos casos a hipocrisia é tão grande que o mesmo que “recrimina” uma mudança, ao ver que o outro perdeu uns quilinhos falará: “Nossa. Você ta mais bonita, parece mais jovem. Perdeu peso foi?”.

Outro ponto da discussão tá no cabelo (normalmente de negros). É evidente (nem para todos) que todo tipo de cabelo é bonito e o único “cabelo ruim” que pode existir é o que ta caindo ou que tenha fungos. Porém, muitas vezes vejo uma imposição ideológica para algumas pessoas negras de “não alisarem o cabelo”. Particularmente acho lindo cabelo cacheado, mas entenderia perfeitamente uma pessoa que queira mudar. Normal pô. A pessoa acordou, se olho no espelho e não gostou do que viu (e vê sempre) e resolveu mudar o visual alisando o cabelo, poderia fazer isso também, fazendo tranças, pintando de outra cor, cortando, etc. Isso não fará dela mais ou menos negro ou “mais alienado”.

É como disse, o que para alguns é “obra de Deus”, para outros é “opressão da sociedade” (Marx ficaria orgulhoso). E nesse meio termo as individualidades vão se perdendo. 


"Não sou político; sou principalmente um individualista. Creio na liberdade; nisso se resume a minha política..." Charles Chaplin.