quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A resignação Ideologica-Social II: A "elitização" dos estádios


Primeiro é sempre bom deixar claro que sou totalmente contra a higienização dos estádios (indico esse texto: clique aqui) e o modelo “teatral” de torcida (indico esse: clique aqui). Ingressos a preços de R$ 100, R$ 200 (os mais baratos) são uma afronta ao esporte mais popular do país. Costumo dizer que a gente não deve fazer com que o futebol se torne um espetáculo de teatro. E sim, o contrário, que o teatro fique mais popular e acessível. 

Dito isso, vamos ao que me incomoda e ao motivo do post, que são (para variar) pessoas que querem ensinar o pobre a ser pobre, ou então, que glamourizam ou teorizam, com um cafajestimo intelectual nauseante, no conforto do seu lar (ou cabine), o sofrimento alheio. Algo que, inclusive, já falei em outro post (clique aqui

Mas, o assunto é futebol. Particularmente me deixa extremamente irritado quando alguns hipócritas falam sobre as novas Arenas e a modernização do futebol brasileiro como absurdo. Já li (e ouvi) coisas do tipo:


“Esses estádios acabaram com a alma do futebol”



“O Fosso era coisa mais linda do mundo”, (Rivellino).



“O torcedor agora leva o Ipad para o campo e não o Rádio de Pilha. Isso é triste". 



“Estão querendo colocar o torcedor educado e tirar o desdentado dos estádios”. (João Canalha)


Entre outras coisas que você pode ver nesse link; http://www.youtube.com/watch?v=D9tqYSjZbUg (no Cartão Verde do dia 26/11. Do minuto 40 ao 43)

Também nesse programa, citaram um dos maiores absurdos que li ultimamente, nojento é pouco. Esse aqui> http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,business-fc-,1095077,0.htm

Que tem absurdos do tipo:


“Só que ninguém reclamava das inconfortáveis instalações do glorioso Arruda, do Recife”.



“Abrigar talvez seja um termo não adequado. Estádio não era feito para abrigar, mas para caber”.



“Quem ia ao estádio sabia que poderia ter que se sentar no concreto com o risco de ficar um pouco espremido, debaixo de sol, chuva ou frio. Mas ninguém se importava”. 

Pausa pra vomitar... 


Voltando...

Pronto, depois de tanto absurdo o que falar? Será que realmente alguns desses “gênios” foram mesmo a um Estádio de futebol?

O fosso é importante? mas, será que eles realmente sabem o risco que ele pode trazer> http://esportes.terra.com.br/futebol/libertadores2007/interna/0,,OI1605247-EI8224,00.html além de, diferente das "maldosas" Arenas, como ele (o fosso) deixa o "povo" distante dos atletas.

Será que para eles, mesmo o Ipad, pod, pud, etc. sendo algo que representa uma evolução natural da tecnologia deve ser restrito apenas aos ricos? Isso me lembra daquela frase: “Pra que pobre com celular. Pobre precisa disso não. Dois gritos pela janela já resolve o problema”. E os educados? Espera... espera... Quer dizer que o pobre, o “povão” no estádio é (só) aquele que fala palavrão, xinga a mãe do juiz e manda o atacante ruim do seu time “tomar no cu” (Ei! Felipe Azevedo, vai tomar no cu!!”), isso sem contar no “desdentado”, que até entendi o que ele quis falar, mas, não pode-se negar o vil estereótipo. Vindo de uma família pobre e convivendo com eles até hoje (óbvio), não me deixa lá muito feliz ver essas pessoas sendo tratadas de forma estereotipada e animalesca. Macunaíma morreu? Acho que não. E o Jeca Tatu? Ahhh é... Esse é o representante das torcidas do interior.

Mas, vamos ao caso Arruda. O Estádio realmente é bem legal, o clima do jogo foi maravilhoso, motivo: ERA UM JOGO DECISIVO. Ele deveria assistir um Santa Cruz x Araripina pelo campeonato pernambucano e ver a diferença. E mesmo assim, falar que: “Só que ninguém reclamava das inconfortáveis instalações do glorioso Arruda, do Recife”, é outra desonestidade (e mentira!. Clique aqui) sem tamanho. Sabe o que isso me lembra: “ahhh gente... ele é pobre, já sofreu muito na vida, vai entender” ou “O nordestino é antes de tudo um forte”, estereótipos e mais estereótipos que nos são jogados goela abaixo. Não tem aquele ditado: "seja feliz com o que Deus lhe deu e dê o que restou para mim", bem comum entre Pastor sem-vergonha. Então, segue quase a mesma lógica. 

Voltando aos estádios... Normalmente costumo ir a Ilha do Retiro que, assim como o Arruda, é de uma falta de organização incrível. Não há nada pior do que ir aos banheiros imundos de lá. Não há nada que me cause mais constrangimento do que ver torcedores em cadeiras de rodas sendo obrigados a ocupar espaços torpes e praticamente sem visão pro campo (isso melhorou após a publicação desse texto), sem falar de senhores de idade subindo arquibancadas (de cimento) mal planejadas. Mas, claro, para os torcedores de cabine isso faz parte do show. É o famoso “no cu dos outros é refresco”. Até porque, muitos dos jornalistas que falam isso, se não tiverem ar-condicionado na sua cabine vão reclamar, né?
Mas, tem mais coisas. E talvez, o maior absurdo de todos (é, dá para piorar): “Abrigar talvez seja um termo não adequado. Estádio não era feito para abrigar, mas para caber”. Isso só me lembra essas cenas no, adivinha, Arruda!> http://www.youtube.com/watch?v=MDvFl6G1iks


Só há povão ali. Porém, não vejo o clima de festa. Sei lá... Mas, se nossos "gênios" dizem que estádio é feito pra caber e que: “Quem ia ao estádio sabia que poderia ter que se sentar no concreto com o risco de ficar um pouco espremido, debaixo de sol, chuva ou frio. Mas ninguém se importava”. Quem sou eu pra discutir né?. Engraçado... É o Arruda. Tá cabendo, mas, não vejo o povão sorrindo. (Ver vídeo desse jogo: http://www.youtube.com/watch?v=V8iBXhDXKVw)

Mas, e as "maldosas" Arenas? Então... Dia desses fui na Arena Pernambuco. Péssimo para chegar. Muito ruim mesmo. No entanto, lá dentro o clima de torcida, o “povão” era o mesmo, sabe por que? Porque o preço do Ingresso era aceitável. Fui e voltei de metrô (e ônibus) no meio do povão (não, não vi nenhum desses "gênios" do saudosismo lá), e, era impressionante como as pessoas gostaram de sentir um pouco de conforto. Era interessante ouvir coisas do tipo: "bem que Ilha do Retiro poderia ser assim", ou "Tomara que façam a Arena na Ilha logo, é massa aqui, mas, é longe". Sabe por que? Questão de dignidade. O problema não está no local, apesar de que, admito, falta "alma" a boa parte dessas Arenas. São praticamente "não-lugares" (ver aqui), em geral, óbvio, prefiro estádios com "alma. Mas, apesar disso, não tentem criar teorias que, com um ar de “progressista”, são segregadoras. Aquela coisa meio: "Ahhh deixa o pobre lá. Mas, bem longe de mim, sabe".

A lotação e outras coisas que citam com glamour não fazem parte da "alma do povão", ninguém gosta de ser tratado como cachorro (inclusive, esse termo é errado. Tipo, é certo tratar um cachorro "como cachorro" (no sentido de mal)? mas, enfim...) voltando ao tema... É claro que figuras "peculiares" (que você encontrava na geral), estão no povão, e que elas são ótimas para o jogo. No entanto, que essas figuras sejam algo natural, que tenham sua dignidade respeitada e que não sejam estereotipadas. (No jogo da Arena mesmo tinha um cara fantasiado de Leão ao meu lado). Não tentem querer ensinar ao povão a forma dele se portar. Tipo: "Não cara, você é pobre. Vá para o estádio de chinelo de dedo, de preferência num metrô lotado e volte bêbado pra casa. Ahhh, mas, se quiser ir com uma fantasia, tá beleza também". 

O grande problema está nos preços, que, mesmo com as Arenas, no geral, não tiveram um grande aumento (salve exceções). O problema está no mercado "selvagem", que, mesmo sem as arenas, já existia. Ou será que foi o conforto dos novos estádios que trouxe o capitalismo selvagem?. Mas, isso não significa que, como diria Zé Ramalho, o povo queira ser tratado (ou ter uma vida) como gado, por mais que tentem criar esse clima de resignação.

O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual.
Joãozinho Trinta