segunda-feira, 21 de julho de 2014

Como pode? Ninguém na minha timeline votava nela


É redundante falar sobre a influência, crescimento e importância da internet (e redes sociais) nas relações humanas. Já falei sobre esse tema em algumas oportunidades (aqui, aqui e aqui). Por isso, não vejo necessidade de entrar nesse mérito de forma mais ampla.

No entanto, as eleições de 2014 que, seguindo o panorama natural da evolução digital, serão a com maior influência nas redes, é um assunto que meu causa, digamos, preocupação.

Falo isso porque no último dia 17 saiu uma pesquisa que aponta a vitória de Dilma no 1° turno. E, como de praxe, foi comum ver pelas redes comentários do tipo:

“Isso é manipulado, nunca vi pesquisas... de ontem saem esses eleitores?” 

“Só vejo compartilhamento e críticas ao governo na internet. Aí agora aparece uma pesquisa falando que ela está em primeiro. Absurdo” 

“Falta de coerência: O povo vaia, protesta e odeia Dilma Rousseff, mas ela continua a 1ª colocada para à presidência”.   


E o principal: “Não vejo ninguém na minha timeline falando que vai votar nela, como ela pode estar em primeiro”.

É interessante, e preocupante, notar essa visão holística (e muito limitada) da dimensão das redes sociais. É algo que vai muito além dos guetos (ver aqui) ou mesmo da criação dos passivos/responsáveis (que comentei aqui). É a negação (ou desconhecimento total) de que chamam de “massa silenciosa”, o que, ampliando, não passa de um desconhecimento do Brasil, como nação.

Vejamos alguns dados:

De acordo com a pesquisa ibope o número de usuários da internet passou de metade da população brasileira pela primeira na vez. Em 2013, os internautas somaram exatos 51% dos cidadãos com mais de 10 anos de idade, ou 85,9 milhões de pessoas. Dessas, 94% possuem contas no facebook (principal rede social). Porém, desses 51% com mais de 10 anos, aproximadamente 10% tem entre 10 e 16, ou seja, não votam. Enfim, como conta não é meu forte, se for “arredondar”, digamos que temos 65 milhões de usuários da internet que também são votantes...

No entanto, o Brasil possuí mais de 138 milhões de eleitores, então, a média de eleitores que possuem acesso à internet não chega a 50% dos brasileiros (isso sem levar em consideração que ter acesso à internet ou mesmo redes sociais não significa que usam com freqüência). Ou seja, é evidente que apesar da sua inegável importância, não serão as redes sociais que definem ou mesmo servem como panorama da eleição. Talvez no futuro isso possa mudar, porém, atualmente, ainda será a “massa silenciosa” que definirá o pleito.

E aí fico imaginando, caso aconteça uma vitória de Dilma, os questionamentos que coloquei acima: “Como pode? Na minha timeline ninguém votava nela”. Talvez esse exemplo seja apenas mais um que mostra o acesso à internet muitas vezes traz uma certa “fuga da realidade”. Ou serve como parâmetro para entendermos a dificuldade (de algumas pessoas) em entenderam a dimensão do nosso país, ou das suas vidas.