segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A supervalorização das Jornadas de Junho


Apesar da importância histórica das Jornadas Junho (ou como diriam outros, Xornadas de Xunho) esse movimento criou, ou aumentou, na cabeça de alguns, a sua torpe visão holística da sociedade (já comentada aqui). É impressionante como para eles o POVO foi as ruas em 2013, porém, o mesmo POVO votou no PT em 2014. Não há divisões, distinções, nem paradoxos. O substantivo masculino POVO representa apenas uma parcela da população, que pensa (ou deveria) igual, que vivem a mesma realidade e compartilham (ou deveriam) as mesmas opiniões. Será?... Evidentemente que não.

Dando um exemplo com números. No dia de maior mobilização as jornadas juntaram mais de 1 milhão de pessoas que foram as ruas protestar contra “tudo que está aí”. Se contarmos todos os dias, poderia arredondar para uns 2 milhões, ou pouco mais, enfim... Sabe o que isso significa? Menos da metade das pessoas que votaram nulo/branco tanto no primeiro como no segundo turno, só no segundo foram mais de 7 milhões de pessoas que não votaram em nenhum dos dois candidatos. Então, numericamente falando, poderíamos muito bem dizer que as pessoas que foram as ruas “querendo mudanças” preferiram não votar, mantendo sua “coerência” (e ainda sobrariam várias). Mas, não só isso, vale lembrar que alguns protestaram contra PEC37, outros pelo Passe-Livre também tiveram os que foram contra “Cura Gay”, etc. Em tese, isso não necessariamente significa que estavam lá “querendo mudar o comando do país”.

Também é importante destacar que o não sentimento de mudança não é só relativo ao PT (presidência). “Aiiinn mas o povo vai as ruas mas vota no PT, depois”, podem dizer alguns. Tirando o que já comentei acima (e não vou desenhar de novo). Ué? O Estado que deu a maior vitória ao PSDB, São Paulo, é o mesmo que é governado por mais de 20 anos pelo.... ...PSDB! Então, seguindo a lógica acima, eu poderia dizer, “Os Paulistas vão as ruas pedindo mudanças, mas, continuam votando no PSDB”.

Mas, voltando a visão binária e holística de mundo. “Ahhh mas eu fui as ruas para mudar o governo”. Bem, primeiro que mudar governo “nas ruas” ou com golpe ou revolução, e acho que as “xornadas” do ano passado passaram bem longe disso. E segundo, se você realmente acha que o processo democrático se resume a uma eleição, bem, em minha humilde opinião, você tem que melhorar muito seu conceito de democracia e representatividade.

Em suma, as “xornadas” e sua supervalorização representaram exatamente o que se “entendeu” delas. Um monte de vozes dissonantes pedindo várias coisas. No entanto, algumas dessas vozes, talvez criadas a iogurte, achavam que todos lá estavam para realizar seus desejos, para lutar pelas suas convicções, e que, ao ver seus anseios derrotados, choram, como grandes crianças mimadas que são. A eles, posso dizer apenas: “Sem violência!, sem violência!!”...