sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A (suposta) polarização não é o problema


Recentemente estava lendo esse texto (Juntos, PT e PSDB se afundam na lama de Cunha), junto com algumas análises que levam sempre a mesma conclusão: “O Brasil não pode ser refém do PT e PSDB”, que segue a lógica de “temos que acabar com a polarização” (Alô Marina!). Discordo da forma simples, e paradoxalmente às vezes dualista como é colocada a questão e explicarei em alguns pontos.

Qual polarização? – Um ponto importante do discurso de “tem que acabar com a polarização” é que ele dá uma importância acima do normal ao Executivo Federal, é como se tivéssemos um monarquia dividida entre dois partidos. E não é bem assim. Já é um discurso meio batido, porém, ao meu ver, ainda atual que “existem vários brasis”, e dentro desse contexto, evidentemente existem os governos estaduais e municipais que, em muitos casos, possuem influência igual (ou maior) que o Federal. Sendo assim, não podemos dizer que "há polarização” no Rio de Janeiro (não entre PT e PSDB, fracos no Estado) ou em Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul, etc. isso sem contar grandes cidades. A dita polarização é macro, porém, suas bases não se mantém de forma igual. Claro, existem exceções, como os maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas, e isso é sintomático sim, porém, não é conclusivo.

A princípio levei em consideração apenas os cargos do Executivo, porém, claro, além do Judiciário, que é um caso especial que foge, em tese, a qualquer partidarismo, temos o poder Legislativo em diversas alçadas, do Federal ao Municipal, e é difícil dizer que ele é “polarizado” entre PT e PSDB. Pegando o exemplo da Câmara Federal, que no geral é dividido por bancadas (podendo ser de um Partido ou um grupos partidários), o PT tem “apenas” a 3° maior bancada, PSDB, 4°, ambos pouco fazem sem alianças, seja com a bancada do PMDB/PEN (68), ou do PSB, com 33, entre outras. No geral não há nem uma polarização de ideias visto a diferença e comunhão de interesses entre as bancadas, no final, acaba valendo mais o jogo de “trocas” do que a defesa de ideias (pontos ideológicos).

Por que mudar? – Já falei de como o sentido da polarização, vendo de uma forma de divisão de poderes, não é bem o que falam. No entanto agora discutirei apenas tendo o Governo Federal como base. É comum, sempre quando há uma “crise da democracia” (seja lá como definem isso) o discurso “precisa sair da mesmice”, “precisa mudar”, “não dá mais para continuar com PT e PSDB revezando o poder”. Vamos aos pontos, começando pelo final, nem vou entrar no discurso de “nos EUA há o bipartidarismo (não é bem assim) e funciona”. Não acho que o modelo deles se encaixa diretamente com o nosso pelo fato que lá são mais de 200 anos de um modelo consolidado, e esse é o ponto. No Brasil possuímos “apenas” 25 anos do nosso modelo de democracia e isso é muito pouco tempo para levantarmos a bandeira do “esgotou o modelo/sistema” (e aí se incluí sim, a polarização), não há modelo político que se “esgota” em 25 anos. Sofre crises? Sim. Sofre mudanças, ou atualizações? Sim. Porém, esgotar é uma palavra muito forte que remete a total falta de opções. Um exemplo simples para isso é que nesses breves 25 anos ainda nem chegamos a consenso de que pode ou não reeleição.

Mas, vamos levar em consideração que o problema está na polarização e ela deve acabar. Aceitando que Marina Silva vence as últimas eleições, o que, de fato, mudaria?. É possível constatar que o “problema (crises) da representatividade" está no sistema em si, então o que levaria Marina a não participar desse “sistema”, se até o próprio Lula, eleito com muito mais força e uma base maior, não conseguiu fugir. Alguns podem dizer, “ah mas o Lula já entrou na intenção de participar, a Marina é diferente”. Ok, vou aceitar a lógica, porém, o que a Marina faria não participando do jogo? que força teria no Congresso? apenas um suposto apelo popular seria forte o bastante para legitimá-la?. Vale lembrar que boa parte do eleitorado faz parte do que chamam de “maioria silenciosa", que, pessoalmente, chamaria de “maioria silenciosa hobbesiana”, ou seja, ele delega (nesse caso, o acordo se daria através do voto) ao seu líder escolhido o “direito de escolher o que é certo ou não", o poder é dele, e ele que resolva, e se por algum motivo ele não fizer o "correto", que muitas vezes é definido por outros atores, que se coloque outro (o exemplo atual da rejeição a Dilma, inclusive de eleitores, mostra isso). Então,  voltando ao assunto, se a Marina ganhasse que exemplo prático poderíamos usar para dizer que “seria diferente” e que ela não seria engolida pelo “bloco hegemônico”? Alguns podem falar: “Mas seguindo essa lógica não precisaríamos nem trocar o PSDB pelo PT”, sim, não seria absurdo, pego como exemplo o México que foi governado, de forma democrática (eleições e tudo mais) de 1929 até 2000 pelo Partido Revolucionário Institucional, e nem por isso o país é muito pior (ou melhor) que o nosso, possuímos, inclusive, um IDH (para pegar uma amostragem) bem parecido, o México é 71° o Brasil 79° (dados de 2013).

E também, como diria André Singer (autor de “os sentidos do Lulismo”):  “O lulismo (governo PT) é um modelo de mudança dentro da ordem, até com um reforço da ordem”, o mesmo também diz que, “O lulismo não é um monopólio do PT, outras forças políticas se realinharam em torno do fenômeno, guiados por ações como Bolsa Família e aumento do salário mínimo”. Ou seja, o Lulismo/Governo PT não necessariamente é uma “quebra do sistema”, apenas uma atualização do mesmo levada por um líder carismático e necessário para o momento, que era o Lula, seguindo um processo, talvez natural, de um sistema democrático jovem.

Precisa mudar de Partido? – Já posto a questão da polarização e “por que mudar”. Entro em outro ponto importante, ao meu ver até mais decisivo, que é a Homogeneização do discurso partidário. Ou seja, se nega as correntes divergentes dentro de um Partido. Uso o PT como exemplo, mas também vale para o PSDB. Dentro do PT possuímos pelo menos 4 grandes correntes a CNB (majoritária), Articulação de Esquerda, Mensagem ao Partido e Movimento PT, fora outras menores que possuem representatividade no Congresso Nacional. O fato é que dentro do próprio PT existem vários partidos que divergem, inclusive, de forma ideológica, óbvio que, no final, por questão “pragmática” todos “são PT”. Só como exemplo, o PSOL, partido pequeno e com apenas 5 congressistas, possuí três grandes correntes (fora algumas menores) que discordam frontalmente entre si. Então, já pensou se a cada discordância entre as tendências fossem criados novos partidos? Se atualmente já acham muito os 35registrados no TSE, teríamos, no mínimo, uns 50.

Singularizar os partidos não é nada mais que uma forma menos agressiva de dizer que “o PT/PSDB só tem corruptos”. Até aceito o discurso que existem laranjas podres no PT (ou PSDB), porém não podemos generalizar, existem bons políticos/correntes e, principalmente, duas militâncias orgânicas (com destaque para a do PT) bem fortes. Então o que faz um político que, por discordar de a ou b muda de partido, melhor que outro que mesmo discordando de a ou b continua na legenda buscando melhorá-la. Pegando a lógica da mudança, já pensou, se todos os “bons” políticos do PT (ou PSDB) sempre que algo “discordante” (um ato de corrupção interna, por exemplo) resolvem sair do partido. Esses “iluminados” criam outra legenda ou vão para outra, lá, havendo outro caso de “corrupção” (ou discordância interna) vão mais uma vez mudar e assim sucessivamente, isso, obviamente, criaria um enfraquecimento e fragmentação de legendas, e, ao meu ver, o discurso “sem partido” é danoso a nossa democracia, assim como a hipertrofia partidária.

Então caso haja uma análise que o “lulismo” (petista) não tem mais força para seguir, é totalmente possível que o PT construa, com sua base, que é inegavelmente grande, uma nova força política, com novas ideias, etc. Assim como o próprio PSDB, caso seja constatado o mesmo, também pode fazer. E é, inclusive por serem partidos grandes, com maior número de adeptos, correntes, ideias e até força de “negociação”, mais seguro esses partidos fazerem um possível processo de mudança do que centralizar isso em uma figura sebastiânica (já tivemos o péssimo exemplo de Collor em nossa história). “Ah mas o PT e o PSDB já estão viciados nesse modelo (de coalizão) podre”, acho um discurso simplista, mas, ok. Voltando ao que falei antes, se o PT e o PSDB estão “viciados” o que comprovaria que outros não ficariam? Ao meu ver, caso haja um problema, ele está no sistema (bloco hegemônico), a simples troca de atores não mudaria muita coisa no jogo, talvez ao contrário, numa nação com "apenas" 25 anos de uma combalida democracia, que ainda não definiu se reeleição é positivo ou não, qualquer ruptura drástica (mais à esquerda ou à direita) só levaria a uma reação igual ou mais forte (sim, é a terceira lei de Newton aplicada a política).

O discurso pode parecer um pouco pessimista, e de certa forma é, porque não acredito em revoluções (positivas) a curto prazo em um sistema ainda jovem (e frágil). No entanto, isso não quer dizer que não poderíamos ter uma liderança positiva (e propositiva) em outros partidos, de forma alguma sou determinista ou reduzo o discurso a “deixa assim que ta bom”. Porém, afirmar que o fim dessa suposta polarização é o “caminho”, é nada mais que um sebastianismo partidário que, pelos motivos expostos, apenas atrapalha e confunde.

sábado, 4 de julho de 2015

Vai na paz, garoto...


Quando se é filho único e tem “problemas” (no sentido de profundidade afetiva) com seus pais, o cachorro (ou animal de estimação) que cresceu com você terá uma importância acima do normal (se é que há um conceito de “normal”) na sua vida. Não é difícil entender o porquê. Com o tempo ele vai se tornando o irmão que você nunca teve, ou seja, ele estará lá para lhe ouvir nos momentos difíceis de uma das piores (em vários sentidos) fases da sua vida, a adolescência. Ele saberá sobre todas suas desilusões amorosas, os problemas no colégio, os sonhos, os medos, etc. Ele sempre lhe escutará, não responderá, óbvio, não dará pitaco, não lhe julgará, apenas escutará. E talvez por isso seja tão confortável tê-lo como ouvinte.

Porém, atualmente, devido a uma doença e a idade meu velho e bom amigo... ahh é Scoby o nome dele, mas, pode chamar de “Cubi”, “Bão”, “Troço” ou “Toma!” que ele irá atender do mesmo jeito. Mas, voltando...devido a uma doença, ele já está na fase final da sua vida. E aí é que as palavras, para descrever o momento, começam a sumir... ....

Atualmente não moro mais com meus pais, sendo assim, só vejo meu amigo, sei lá... uma, duas vezes por mês. Sinceramente, ainda bem. É cada vez mais difícil olhar para ele e não ver mais a força e a alegria de outros tempos, ver que ele não consegue mais pular em mim quando eu chego, que não tem mais o brilho nos olhos de outrora. Enfim, observá-lo definhando aos poucos.

Porém, mesmo assim, ele ainda vai seguindo firme no desejo de viver. Às vezes acho que ele faz isso por saber o quanto sua morte me deixaria mal, em um momento que já não é dos melhores. Talvez ele saiba que, de alguma forma, eu ainda preciso dele, que mesmo já adulto, quando vou até lá, à noite, sem ninguém por perto, chego nele e digo: “garoto, essa semana foi difícil”...

Também acho que ele continue vivo apenas por não entender porque não estou mais lá, talvez ele pense: “será que eu fiz algo de errado para ele ir embora?” “por que ele me abandonou?”...e siga vivo, bem ao estilo Hachiko, esperando o dia em que voltarei. Sinceramente, a vontade que tenho é essa, de voltar, mas, não para ficar, apenas para dizer a ele: “Vai em paz, garoto. Você já fez muito por mim, obrigado por tudo”.

E fez mesmo, sabe. Na verdade, continua fazendo... A primeira vez que “encarrei à morte”, ainda criança, foi devido a um antigo cachorro. Aprendi muito. Scoby, mesmo que sem querer, está me ensinando não só a encarar a morte e sim a encarar a dor de ver algo que gosta acabando diante dos olhos e não poder fazer nada. Talvez ele saiba que a minha vida será maior que a dele e que eu passarei por isso outras vezes. Talvez seja só sua última lição. Ou pior, talvez, ele esteja querendo me dizer que por mais doloroso que seja, chega um momento na vida que a gente tem que sacrificar algo que gosta para que ambos não sofram mais. Sinceramente, espero que não pense assim, pois significaria que ele não me escutou muito bem, pois, se tivesse escutado, saberia que eu não sou forte o bastante para isso.

Não sei quando o verei de novo, espero ainda vê-lo com vida para ler essa carta para ele. Sei que ele não entenderá.  Sei que ele não me responderá com um “obrigado”... Mas, lerei na esperança de pelo menos mais uma vez voltar a vez o brilho nos seus olhos.


terça-feira, 30 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 1 - Quem está aí)


Não sei sobre o que escrever. Queria dizer tantas coisas mas a cabeça não permite. Ela apenas diz: “escreve, escreve, escreve”... é como se fosse uma paródia do “run, Forest”, porém, menos glamourosa e mais aflita. Paralelamente converso com outras pessoas no meio da noite/madrugada com o objetivo de sentir que “há alguém do outro lado”. Não é questão de solidão, não é questão de medo, não sei se é porque quero ser ouvido, mas, me deixa um pouco mais feliz saber isso...

Queria realmente ter algo tocante para dizer, algo “do coração”, que pudesse mexer (ou coisa do tipo), algo que no futuro alguém viesse a ler e falasse “nossa, que espetacular”. Mas não. É apenas um grito no escuro, sufocado por distâncias... uma tentativa, talvez falha, de não dormir, de não “sair de si”. Apenas reforçando o paradoxo do momento, já que isso é o mais quero.

Gostaria de estar triste. Não estou. Talvez se estivesse pudesse voltar a saber o que são sentimentos. Também gostaria de estar com raiva, não posso. Descobri cedo que as pessoas são falhas, mas, principalmente, que sou falho em pensar isso e que a raiva é, de alguma forma, apenas um jeito de amortecer dores, de transportar culpas, quando, na verdade, numa existência vazia, não há esse tipo de coisa.

Enfim (acho que não é momento de usar enfim). Escrevo na expectativa de que até o último parágrafo, que não sei qual será, possa conseguir chegar a uma catarse, possa liberar “todo meu saber” (ou o que acho que sei). Escrevo na expectativa de que ao terminar esse texto, ele não seja só mais um diário vago que ninguém lerá, e que, provavelmente, no futuro eu olharei com desdenho (e até vergonha).

Não sei se escrevo para ser lido. Interpretado. Rebatido. Questionado. Talvez seja o jeito mais fácil que consegui de me ouvir. De me pedir desculpas, ou, sei lá, de me pedir, “pare, por favor, pare”. No entanto, ao mesmo tempo, não consigo me entender. Ruídos surgem, mesmo numa noite silenciosa. Os ruídos são os risos de outras conversas que não voltam, o choro por pessoas que não voltarão ou mesmo a dor por sentimentos que... ... enfim (acho que agora usei o enfim de forma correta).

Talvez isso esteja lhe parecendo depressivo (com quem estou falando?). Mas não é. Também não é confortável ou libertador. É apenas uma tentativa de me fazer ouvir mesmo (Mas, sério. Com quem estou falando?). Porém, não surgem mais ideias. Não surgem mais palavras. Não surge o sono. Não surge o último parágrafo. Mas eu queria continuar aqui. Queria descobrir com quem estou falando. E, admito, no fundo no fundo... saber que alguém está me ouvindo.

Talvez devesse ligar para minha mãe e dizer que a amo. É, eu nunca disse. Mas seria estranho, só iria trazer mais preocupação para ela. É interessante isso né (ainda não sei com quem estou falando) talvez a melhor coisa que poderia dizer, lhe causaria uma grande preocupação. É o tal do paradoxo (gostaria de citar algum autor famoso agora, só agora). E meu pai? bem... prefiro não comentar aqui... acho que iria acabar com o resto de coerência que ainda há no texto.

Aprendi na faculdade que você não precisa terminar o texto com “a frase”, que o mais importante é o conteúdo, bla, bla, bla... essas coisas... não sei... nunca acreditei muito. Sempre fico buscando “a frase” em tudo na vida, talvez seja isso que me motiva. Porém, quando reli esse texto, percebi que o "final perfeito" ficou dois parágrafos atrás. Poderia ter voltado, deletado o resto e terminado ali. Mas, não. Representa bem como às vezes a gente não percebe e "não escuta" os melhores momentos e acaba deixando-os passar, ficando apenas com um final clichê.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 2 - Viver com medo ou com o medo)


Várias perguntas parecem simples, mas, normalmente nos trazem uma resposta complexa ou evasiva. Tipo: “o que te faz feliz”, “diga algo bom e algo ruim em você”, “de que você tem medo”, “por que existe algo ao invés do nada”. Tá, essa última nem tanto.

A complexidade das respostas normalmente vem quando se entende que as questões não possuem o tanto de simplicidade que imaginávamos. Chega um momento que elas acabam nos levando a uma espécie de círculo onde surgem mais dúvidas. Exemplo, se te pergunto “o que te faz feliz”, você ao invés de responder talvez se questione o que é felicidade e isso levará a outros questionamentos e por aí vai. 

Mas meu foco não é a felicidade, sei lá, não acho que cheguei a maioridade para falar sobre isso. Talvez nunca chegue. O ponto principal, como fica claro no título, é o medo. Sempre evito responder sobre ele, e se questionado, sigo exatamente os dois modelos (que citei antes), ou respondo de forma evasiva, digo que tenho medo de “dentista”, ou complexa, falando que tenho medo da eternidade. Em ambos os casos falo a verdade, no entanto, são apenas a ponta de um iceberg que se esconde dentro de “águas frias de um pacífico”.

Meus medos sempre andaram muito próximos dos meus demônios. Uma pausa rápida: eu sei que dentro de uma cultura cristã/ocidental/maniqueísta o termo “demônio” é algo pesado, evoca “tudo que há de pior”, algo muito mau. Não é essa intenção. Os “meus demônios” podem ser classificados como algo difícil de interpretar e, às vezes, controlar, porém, não necessariamente (ou sempre) me atormentam. Seguindo... meus medos vivem uma simbiose com meus demônios, o que me leva a um distanciamento de ambos, porém, e, sendo assim, evito combate-los. É como diria uma frase de, se não me engano, Nietzsche: "ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você".

E esse é o ponto. Talvez meu maior medo (eu sei, eu sei, deixa tudo meio incoerente) seja exatamente expô-los. Eu sei conviver com eles, sei quando me atingem, quando eu posso evitá-los ou mesmo quando posso usá-los ao meu favor. Talvez tenha o receio de, ao expor meus medos esteja expondo a mim mesmo. Talvez o medo guie minha vida e, paralelamente, eu tenha medo (?!) de que eles sejam o alicerce dela. Aí, emergindo em mim, faria a “pergunta elementar”, por que há algo ao invés do nada? E a resposta talvez seja: porque há o medo. 

Porém, não sei se vocês (eu ainda nem descobri com quem falo, e agora já estou ‘falando’ com mais de uma pessoa. rsrs) notaram que toda a base do último parágrafo, que é o mais importante desse texto, é composto por “talvez’, não existem certezas. Claro, óbvio e evidente que, sei lá, desde os 16 anos... aboli as certezas da minha vida, provavelmente (eu sei, evitei...) essa seja a marca mais forte da minha evolução (?). No entanto, basear sua vida no “talvez”, talvez... seja apenas estar expressando o medo (olha ele aí de novo) das certezas... E assim viver em círculos existenciais.

Entendem o complexo das perguntas? Não é apenas não saber responde-las ou criar outras dúvidas. É o medo (desculpa, foi inevitável) do círculo que ela pode lhe criar. Por que eu iria me preocupar com o nada se eu ainda não responder o que existe (e o que é isso). Por que iria me preocupar em responder sobre o que não tenho certeza se tento ter certeza que ela (a certeza) não existe? E principalmente, por que iria me preocupar em detalhar meu medo se não sei o que pode estar por trás dele e do que ele me protege. 

Isso tudo pode levar aquela clássica discussão sobre as “maravilhas em ser ignorante”, de tomar a “pílula azul” (ver Matrix) e continuar em um maravilhoso mundo onde reina o "não saber”. Desculpem, não foi essa intenção, queria apenas conseguir escrever, mesmo que numa palavra, mesmo que sem a intenção que alguém entenda, sobre do que tenho medo. Talvez isso me faça dormir. Talvez.

domingo, 28 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 3 - A ansiedade)


Acho que todo mundo já passou pelo desejo de adiantar o relógio da vida apenas “para saber o que vai acontecer”. Sim, bem ao estilo do filme Click, muito bom inclusive (apesar de que o tema poderia ser melhor aproveitado). Mas, enfim... voltando ao assunto, tudo isso é a ansiedade/curiosidade “trabalhando em nós”, esse (s) sentimento (s) tão humano. Sim, porque particularmente não acho que a “curiosidade matou o gato” não creio que ele, e os animais em geral, sejam curiosos ou tenham ansiedade, eles apenas buscam encontrar “algo melhor”, o que leva a situações diferentes.


Nós não. Normalmente apenas queremos saber o que vai acontecer, dando certo ou não. Mentimos dizendo “é só para ver se tem como dar um jeito”, quando, na verdade, sabemos que mesmo se soubéssemos de forma antecipada, cometeríamos os mesmos erros. E é aí que a ansiedade “nos destrói”, ou nos torna mais humanos, sei lá...

Admito que normalmente sempre negligenciei a ansiedade, lembrava (ou tentava esquecer) os medos, angústias, solidão, alegrias, dúvidas, enfim. Mas a ansiedade, não sei bem o porquê, ficava em segundo plano. Até ser “lembrado” (talvez da pior forma) dessa “figura”. E que chato isso... pois, pior do que a ansiedade, é alimentá-la. É torná-la algo “vivo”, um parasita que vai corroendo seus dias pouco a pouco em troca de um “futuro” incerto, de respostas para perguntas que você nunca quis fazer e de momentos que apenas alimentam mais ansiedade lhe deixando preso em um “eterno” círculo (tenho que fazer um texto só falando sobre esse círculo. Nietzsche, aí vou eu!).

A ansiedade talvez seja a mais cruel capanga do tempo. Ou pior que isso, talvez seja o próprio “mestre” do tempo que prefere viver em um anonimato e deixar seu pupilo mais famoso “brilhar”. Pois o tempo nos entrega o que promete, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde. Já ansiedade, não. Ela brinca com o tempo, brinca com nossa mente, emoções, etc. Ela praticamente segue o preceito religioso (dogmático) de “me segue que eu te ofereço o paraíso”. E nós, tolos, nos deixamos levar.

Desculpem (?) eu falo “nós” na esperança de que essa “figura” não seja apenas um fantasma pessoal, que ela realmente seja todo esse monstro (bem) escondido debaixo da cama. Daqueles monstros tão terríveis que não adianta se esconder debaixo do cobertor para fugir.

Voltando... eu gostava quando minha única ansiedade era saber como seria o episódio de Dragon Ball Z no outro dia, ou, nos finais de semana, a ansiedade de ir viajar (para praia, piscina, etc) ou ansiedade da prova. E é curioso pensar assim. Pensar que, quando eu vejo a ansiedade como algo “positivo” acabo alimentando outro monstrinho (ou um grande monstro), a nostalgia. E pensando bem, não tem muito para onde correr, né? Na verdade, se a gente imaginar que algumas religiões se baseiam muito em um tridente (para bem ou para o mal), talvez a “nossa” tenho o seu poderoso trio que “nos guia”. São eles: a nostalgia, o tempo e a ansiedade. O Passado, o presente e o futuro. 

sábado, 27 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 4 - Nostalgia)


Já falei sobre a ansiedade, ou seja, o futuro. Agora, nada mais justo que falar do passado, a nostalgia. Justo não, difícil... Pensei em alguns autores para começar de forma mais “filosófica”. Porém, creio que a nostalgia vá além da vã filosofia, de teorias, teses e pensamentos. Ela talvez expresse de forma mais “material” um sentimento.

Amor, saudade, tristeza e até mesmo a ansiedade, são sentimentos que sabemos (alguns) quando estamos, porém, bem difíceis de explicar, claro, fugindo a clichê de “amor é quando você etc... etc..”... No entanto a nostalgia, não. Ela é palpável, ela existiu. Você só sente(ou deveria sentir). nostalgia de algo que viveu. Ou seja, não é algo apenas idealizado, é (ou foi) real. E como isso pode ser ruim. Anteriormente falei que “A ansiedade talvez seja a mais cruel capanga do tempo”. Verdade. Porém, a mais sádica, a que nos corrói por dentro de forma mais lenta e, muitas vezes, dolorosa, é a nostalgia. E não adianta, ela sempre virá com a face de algo bom. De lembranças de bons momentos, etc. Até porque, a “irmã ruim” da nostalgia é o pesadelo que nos traz as lembranças desagradáveis.

Mas, então como convivemos com o bom que não volta mais? Ela não nos está prometendo algo, como a ansiedade, ela está nos dizendo “Você gostou daquilo, lembra? Foi bom né... então, talvez nunca mais volte. Como você vai conviver com isso?”. E como convivemos? As vezes fingimos que o que passou foi satisfatório, mentimos para nós mesmos, outras vezes, dizemos que nem foi tão importante, e continuamos mentindo. E claro, existem aqueles momentos em que entendemos a armadilha em que a nostalgia nos colocou, e aí, caímos nos braços da ansiedade, criando fantasias ou planos de repetir o que passou e aí pisamos no tempo, ou pior ainda, na realidade, de forma dura.

A nostalgia é tão sacana e sádica que ela nos faz sair do real para o irreal, o “impossível”. Se na ansiedade, mesmo que muitas vezes difícil, nós idealizamos algo que, talvez, possamos conseguir (mesmo que de forma torpe). Na nostalgia, não. O fruto dos nossos desejos não serão mais repetidos. O máximo que podemos fazer é querer voltar no tempo. Ou seja, o impossível (até onde se sabe). E ela é um sentimento tão “palpável” que nos leva a outros estágios. Talvez, do tridente (ansiedade, nostalgia e tempo), só ela nos faça rir, lembrando dos momentos, ao mesmo tempo em que choramos, lembrando que eles não voltam, e sente raiva, ao imaginar que deveria ter aproveitado. Tudo lá, ao mesmo tempo, como se fossem aqueles socos abaixo de cintura que parecem “leve” mas, doem bastante.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 5 - O tempo)


Tecnicamente este é o final. Gostaria de dizer que já descobri “quem está aí”, que já administrei meus medos e, principalmente, controlei, em um yin-yang harmônico, a nostalgia com a ansiedade. Mas, não. A única coisa que consegui foi destravar alguns atalhos do tempo. Talvez (lembram?) antecipar algumas situações e atrasar outras, apenas para relativizar a agonia do dia-dia.

É difícil concluir algo que não se conclui. Colocar um ponto final em algo que você nem sabe como começou, seguir o tempo sem esbarrar com a nostalgia, ansiedade e, consequentemente, o medo.

Quando falo de “tempo”, falo de momento, do hoje, do agora. Diferente do ontem e do amanhã, já citados anteriormente, ele não é mau, ele não nos engana e muitos menos cria perspectiva. O tempo é o nosso amigo fiel, estará conosco para sempre, onipresente, na maioria das vezes esquecido. É interessante pensar que algo tão importante, algo que, em tese, rege nossa vida, é tratado de forma coadjuvante, insignificante.

O tempo está lá e a gente sabe disso. Então, por sabermos que ele não nos abandonará, o colocamos em segundo plano, talvez, encantados pelo canto da sereia que a ansiedade nos traz, ou iludidos, com a nostalgia que nos atormenta.  

Porém, por mais fiel que possa ser, o tempo é efémero e aos poucos, sem que, às vezes, notarmos, ele vai se distanciando, vai cansando de ser mal tratado, até que chega um momento em que olhamos para os lados e apenas conseguimos enxerga-lo ao longe. O tempo não é mau, ele, apenas, não é eterno. Na verdade, ele é bom demais para ser isso.