segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 2 - Viver com medo ou com o medo)


Várias perguntas parecem simples, mas, normalmente nos trazem uma resposta complexa ou evasiva. Tipo: “o que te faz feliz”, “diga algo bom e algo ruim em você”, “de que você tem medo”, “por que existe algo ao invés do nada”. Tá, essa última nem tanto.

A complexidade das respostas normalmente vem quando se entende que as questões não possuem o tanto de simplicidade que imaginávamos. Chega um momento que elas acabam nos levando a uma espécie de círculo onde surgem mais dúvidas. Exemplo, se te pergunto “o que te faz feliz”, você ao invés de responder talvez se questione o que é felicidade e isso levará a outros questionamentos e por aí vai. 

Mas meu foco não é a felicidade, sei lá, não acho que cheguei a maioridade para falar sobre isso. Talvez nunca chegue. O ponto principal, como fica claro no título, é o medo. Sempre evito responder sobre ele, e se questionado, sigo exatamente os dois modelos (que citei antes), ou respondo de forma evasiva, digo que tenho medo de “dentista”, ou complexa, falando que tenho medo da eternidade. Em ambos os casos falo a verdade, no entanto, são apenas a ponta de um iceberg que se esconde dentro de “águas frias de um pacífico”.

Meus medos sempre andaram muito próximos dos meus demônios. Uma pausa rápida: eu sei que dentro de uma cultura cristã/ocidental/maniqueísta o termo “demônio” é algo pesado, evoca “tudo que há de pior”, algo muito mau. Não é essa intenção. Os “meus demônios” podem ser classificados como algo difícil de interpretar e, às vezes, controlar, porém, não necessariamente (ou sempre) me atormentam. Seguindo... meus medos vivem uma simbiose com meus demônios, o que me leva a um distanciamento de ambos, porém, e, sendo assim, evito combate-los. É como diria uma frase de, se não me engano, Nietzsche: "ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você".

E esse é o ponto. Talvez meu maior medo (eu sei, eu sei, deixa tudo meio incoerente) seja exatamente expô-los. Eu sei conviver com eles, sei quando me atingem, quando eu posso evitá-los ou mesmo quando posso usá-los ao meu favor. Talvez tenha o receio de, ao expor meus medos esteja expondo a mim mesmo. Talvez o medo guie minha vida e, paralelamente, eu tenha medo (?!) de que eles sejam o alicerce dela. Aí, emergindo em mim, faria a “pergunta elementar”, por que há algo ao invés do nada? E a resposta talvez seja: porque há o medo. 

Porém, não sei se vocês (eu ainda nem descobri com quem falo, e agora já estou ‘falando’ com mais de uma pessoa. rsrs) notaram que toda a base do último parágrafo, que é o mais importante desse texto, é composto por “talvez’, não existem certezas. Claro, óbvio e evidente que, sei lá, desde os 16 anos... aboli as certezas da minha vida, provavelmente (eu sei, evitei...) essa seja a marca mais forte da minha evolução (?). No entanto, basear sua vida no “talvez”, talvez... seja apenas estar expressando o medo (olha ele aí de novo) das certezas... E assim viver em círculos existenciais.

Entendem o complexo das perguntas? Não é apenas não saber responde-las ou criar outras dúvidas. É o medo (desculpa, foi inevitável) do círculo que ela pode lhe criar. Por que eu iria me preocupar com o nada se eu ainda não responder o que existe (e o que é isso). Por que iria me preocupar em responder sobre o que não tenho certeza se tento ter certeza que ela (a certeza) não existe? E principalmente, por que iria me preocupar em detalhar meu medo se não sei o que pode estar por trás dele e do que ele me protege. 

Isso tudo pode levar aquela clássica discussão sobre as “maravilhas em ser ignorante”, de tomar a “pílula azul” (ver Matrix) e continuar em um maravilhoso mundo onde reina o "não saber”. Desculpem, não foi essa intenção, queria apenas conseguir escrever, mesmo que numa palavra, mesmo que sem a intenção que alguém entenda, sobre do que tenho medo. Talvez isso me faça dormir. Talvez.

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