sábado, 5 de março de 2016

O PT precisa ir além, e não é Lula que deve dar esse passo


Não entrarei no mérito da ação coercitiva, da operação Lava-Jato ou nas reações a respeito disso, creio que a internet/meios de comunicação oferecem veículos (e textos) bem melhores para esse tipo de informação. Meu foco é o desdobramento do caso ocorrido ontem com o ex-presidente Lula e como ele pode afetar, ao meu ver negativamente, as eleições de 2018.

Em primeiro lugar, diferente do que alguns tuiteiros, blogs e etc, seja por desconhecimento, caça-clique ou mesmo má-fé tentaram afirmar, após o que houve nesta sexta-feira, o PT não acabou e não acabará. O PT é um partido enorme que possuí, mais do que qualquer partido político no Brasil, militância orgânica e que consegue organizar massas. E sim, isso manterá o partido por muitos anos entre os maiores, por mais que diversos setores, inclusive alguns dentro do próprio PT, tentem o contrário.

Vejo como coerente, assim como ocorreu com Dirceu, Genoíno, etc. a defesa do PT (incluindo seu fiel escudeiro PC do B) ao ex-presidente Lula, a partir do momento em que o partido avalia que há perseguição, e é um direito seu, defender seus partidários, independente de qualquer “senso-comum” é algo bem normal e natural, não vejo problema nisso. No entanto, e é esse o principal objetivo do post, me preocupa, mais uma vez, a personalização do caso.

Achei interessante, e até certo ponto previsível, o discurso de Lula após o ocorrido, o argumento de “eles contra nós” é uma carta sempre segura do PT, e, convenhamos, a mídia faz por onde alimentar esse tipo de argumento. Porém, me chamou atenção negativamente quando o ex-presidente (apartir dos 25min e 20 segundos) diz: "eu descobri agora que nem tudo está acabado como pensei que estava. É preciso recomeçar".

Esse tipo de declaração indica que Lula, no alto de toda sua importância interna e externa, algo provado ontem, simplesmente diz que havia desistido do governo Dilma. E pior, é necessário ele, um senhor, como o próprio fala em discurso, com mais de 70 anos, conclamar um partido enorme a “recomeçar”. Mas, recomeçar por onde? O que especialmente Lula pode oferecer de novo?

Ontem, como em alguns momentos dessa crise (ou “crise”) se abriu a possibilidade do PT, dentro da sua grandeza, se renovar, propor algo novo, novas lideranças e direcionamento que, em primeiro lugar, não fique preso a lógica de “nós contra eles”, e, em segundo, não viva em função do “é melhor assim do que voltar ao que era”. É evidente que o novo pelo novo não é a solução dos problemas, porém, a forma como foi tratado o caso no meio petista, elevando Lula como o “presidente de 2018” me passa a imagem de um partido atrofiado que propõe, para 2018, uma lógica “é melhor ficar na década de 2000 do que voltar a de 90”, sinceramente, isso não me encanta. É, mais uma vez, repetir todo o discurso já desgastado de 2014.

O discurso de Lula de “nós avançamos socialmente e eles não aceitam”, mesmo que correto, é velho. Sim, houveram avanços, mas, e agora qual é a proposta que vá além de “pelo menos não são eles?”. O PT, e consequentemente o ex-presidente, perderam uma grande oportunidade de fazerem o que já deveriam ter feito faz muito tempo, que é zelar e se necessário limpar a imagem de uma das figuras mais importantes da história do Brasil. O que me parece é que o partido ao invés de aprender com seus erros e, principalmente, com a história, ao invés de preservar a marca Lula, prefere cometer os mesmos erros outrora cometidos por Vargas, o da personificação do Estado, do sebastianismo político, talvez sem a mesma consequência, todavia, sem qualquer tipo de avanço ou proposição de melhora. É o culto à personalidade de um partido que, através de sua militância, poderia propor algo além do nós contra eles.



Ps. Também me incomodou bastante o ex-presidente, vítima da ditadura militar, não contestar o exagero de parte da militância petista que comparava uma ação coercitiva, onde, segundo o próprio presidente ele foi “bem tratado pelos delegados” com as prisões e crimes da ditadura. É algo de um desrespeito enorme com a história dos que foram perseguidos por esse período.